Frase do Dia...

“Uma cozinha geralmente é definida como uma culinária que deriva de uma cultura particular”

Márcia Algranti, 5763 (2005)

sábado, 1 de junho de 2013

O MANIFESTO DO COZINHEIRO - Por Roberta Sudbrack

Passeando pelo fantástico mundo do FACEBOOK, me deparei com um texto fantástico, escrito pela querida e talentosa Chef ROBERTA SUDBRACK...
Texto onde ela faz um pequeno desabafo do que pensa, sabe e conhece ser a vida e rotina de um cozinheiro. exatamente, aceitamos ser chamados de cozinheiro, pois é o que somos. 

Entenda a Diferença entre as nomenclaturas:

Pessoas que estudam Gastronomia são Gastrólogos
Os que não estudam, mas conhecem e são apreciadores de uma boa comida são chamados Gastrônomos
E para chegar ao cargo de Chef a caminhada é longa... Você tem que merecer, conquistar!

Conhecendo um pouco sobre a autora deste texto:



A vida simples e cheia de charme da chef Roberta Sudbrack

Colunista do EGO já foi chef do Palácio da Alvorada, é autora de livros, seu restaurante no Rio é bem freqüentado, mas ela não abre mão de ter no seu cardápio cachorro quente.

A história da jovem chef Roberta Sudbrack é, no mínimo, curiosa. Seus primeiros passos na cozinha foram dados em uma barraca de cachorro-quente, que ela mesma instalou em uma praça de Porto Alegre, quando tinha 18 anos. Ajudada pela avó, Roberta conseguiu vender 300 lanches e juntou o dinheiro necessário para viajar até Washington, onde cursou Veterinária na escola americana Montgomery College. 

Depois de perceber que a paixão pela cozinha era mais forte, Roberta começou a estudar gastronomia por conta própria. Aprendeu de maneira autodidata as principais técnicas e, quando voltou ao Brasil, conseguiu um emprego na cozinha do Palácio do Planalto, em Brasília. 

Suas criações inusitadas transformaram a alimentação do então presidente Fernando Henrique Cardoso e a tornaram conhecida no meio gastronômico do país. Com o final do mandato, a chef mudou-se para o Rio de Janeiro, onde montou um buffet. O sucesso do local permitiu que ela criasse seu primeiro restaurante, o estrelado Roberta Sudbrack, em 2005. 

Fonte de Pesquisa:




Agora vamos ao texto, pois é simplesmente... Fantástico!!!



O Manifesto do Cozinheiro
Por Roberta Sudbrack

Ser cozinheiro é enxergar a vida - a vida inteira - com os olhos curiosos da descoberta. Tudo é novo? Espera aí, mas isso eu já vi em algum lugar! Sim e não. Viu, mas não viu. E se viu, ora, que diferença faz? Tudo pode ser novo de novo para o cozinheiro. Sobretudo o velho! E como pode ser surpreendente quando observado com olhos curiosos. Tudo é motivo para ver de novo. Tudo é motivo para acreditar que qualquer coisa é possível. Qualquer espessura é alcançável. Qualquer ingrediente é maleável. Qualquer sabor é conhecido. Ou não? E se não for, melhor ainda. Mãos à obra e mente aberta, você é cozinheiro!

A nossa vida começa a ser reescrita todos os dias junto com o mise en place. É sempre um novo capítulo e um parágrafo mais interessante do que o anterior. Outra história a ser vivida, dividida e sofrida... Como sofremos. Sofremos fisicamente e essa parte não varia. No pacote estão incluídas as bolachinhas inteiras e as que perderam o recheio também. É pegar ou largar! Sofremos emocionalmente. Profundamente! A entrega não é uma escolha, é um fundamento. Ser cozinheiro é entregar a vida diariamente à missão de servir e sonhar.

Sonhamos com sorrisos, gargalhadas, tilintares de copos e na melhor das hipóteses uma lágrima. De alegria. De recordação. Uma lembrança. Um sorriso calado. Servimos diariamente com a convicção de quem decidiu que assim seria. Entramos pela porta dos fundos e usamos o banheiro da área de serviço. Estamos a serviço, ora! Somos felizes, muito felizes. Não conheço um cozinheiro triste. Conheço pessoas que imaginam ser cozinheiro e são tristes. Claramente porque não são.

Servir, essa não é uma tarefa para qualquer um. Requer delicadeza, humildade, destreza. Estamos sempre um passo atrás dos ingredientes, somos apenas os instrumentos encarregados da sua expressão momentânea. Estamos um passo atrás de você. Fazemos reverência a sua presença, vibramos com ela, sonhamos com ela diariamente. Vivemos na expectativa de acolher. Servimos sonhos na expectativa de colher sorrisos.


E quando uma noite acaba, quando o corpo se arrasta pela cozinha, aqueles mesmos olhos curiosos agora estão baixos e os batimentos cardíacos começam a voltar a um nível com o qual não sabemos conviver. Começamos imediatamente a pensar no mise en place de amanhã! Ele é a certeza de que a nossa história é como a dos balões: tem sempre um lugar de partida, de chegada jamais
.


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